sábado, 19 de novembro de 2016

Escola Sem Partido, mas com muita Participação




Na atualidade, a escola está passando por uma situação que está dando oportunidade de se pensar a escola de modo diferente que até então se estava pensando. Alguns fatos como a ocupação da escola por alunos. Também a proposta da escola sem partidos e a flexibilidade do currículo. São fatos importantes para se pensar a escola. É consenso que não existe futuro promissor e desenvolvido sem uma educação de qualidade. É um ponto importante para se começar. Também é consenso entre várias pessoas do povo que o governo, seja ele de esquerda ou de direita, não está preocupado em oportunizar uma escola pública de qualidade.
Muitos dizem que antigamente a escola pública era de qualidade. Na verdade, nunca no Brasil houve uma escola de qualidade. Existiu sim uma escola melhor do que temos hoje. E também a escola não acompanhou a complexividade da sociedade. E este acompanhamento é o que podemos considerar como uma parte da qualidade do ensino público. Com o passar do tempo a sociedade foi se diversificando e se desenvolvendo muito e a exigência é muito maior do que antes.
E a escola não se atualizou. Por exemplo, alguns anos trás, na década de 80 do século passado, para se conseguir um emprego de Office boy, bastava você saber usar um guia de rua. E geralmente uma empresa ensinava a fazer isso. E para ser promovido para auxiliar de escritório, bastava você saber usar uma máquina de escrever. E saber atender um telefone. Que o cargo era seu. Hoje em dia as coisas são diferentes. A máquina de escrever foi substituída pelo computador. E não basta você usar o computador como uma máquina de escrever evoluída. Tem que saber usar outros programas, como uma planilha e usar a internet, entre outros programas. Só saber atender o telefone não é mais suficiente, pois também temos que responder e-mails. Entre outras coisas.
Uma escola com uma só ideologia, que não tem uma flexibilização do conteúdo e não há possibilidade de se preparar para o mundo do trabalho e para o mercado do trabalho está condenada ao fracasso. As ocupações que os alunos fizeram para reivindicar o não fechamento de algumas escola foi muito importante para se pensar a educação como um todo. E também demonstrou que a escola não foi esquecida pela sociedade. Algo que o governo pensou que a escola não era prioridade para a sociedade. E este ponto o governo estava errado. E que bom que o governo estava errado. Já que a escola não reprova em muitas circunstâncias então o governo deve ter apostado no esquecimento da escola pela sociedade. Pena que estas ocupações viraram uma forma de baderna, de bagunça. Foi só os partidos políticos começarem a se envolver nestas ocupações que a bagunça também começou. O que os políticos não corrompe? 
Para se ter uma escola de qualidade deveria ser proibido a família de políticos estudarem em escola particular. Daí você iria ver a qualidade da escola ser outra. Não erro em dizer que a escola brasileira seria uma das melhores do mundo.
Muitos especialistas em educação defendem uma escola democrática. E outros defendem uma escola humanista. Tanto uma como a outra defende uma autonomia do aluno. No sistema piagetiano o papel do professor é de facilitador e propõem que o aluno seja sujeito de sua educação e não mais objeto. Já Vygotsky também postula que o aluno precisa conduzir sua formação, por isso defende que o papel do professor é de mediador. Paulo Freire já acredita que historicidade do aluno e o professor em sua função deve ser um animador. Saviani considera a importância da conscientização, ou seja, a passagem do mito para a atitude filosófica. A Teresa Rios além de defender a ética da competência, também afirma que os alunos não erram e sim eles tentam acertar. Pelo menos os que levam a sério a escola.
Todos estes pensadores que contribuíram para a educação formal têm algo em comum, a democracia. Este projeto proposto pelo governo federal é importante porque o aluno tem o direito de se posicionar em relação a seu estudo. Esta flexibilidade é importante não só para que o aluno decidir formalmente sua direção, mas é também exercer sua decisão, sua escolha. Aprender a escolher é tão importante como fazer equação do segundo grau como fazer análise sintática. Acredito que isso irá trazer benefícios para a sociedade. Estudar o que escolhe pode ser uma alternativa, ou uma opção de enfrentamento ao desperdício escolar que em partes se dá pela evasão escolar. E também acredito que o diálogo entre docente e discente pode melhorar. Pois, gostar de ensinar só combina com o gostar de aprender.
René Descartes defendeu que o indivíduo pensa. Já Pascal deu importância do sentir. Já Hegel postulou na historicidade. Estas dimensões do ser humano estão acontecendo simultaneamente. O que está faltando é a questão ética, como a de Kant e o imperativo categórico e sua defesa de atitudes transparentes. Algo que os políticos não gostam muito, pois querem que continuem a existir caixa dois, dinheiro não contabilizado e o pior, contabilidade criativa.
E o ser humano na atualidade, principalmente no Brasil, perdeu muitas referências e estas dimensões podem ser conflitantes ou não. E o aluno levado a se “auto-decidir” é benéfico porque ele terá que escolher qual opção é a melhor para ele. Ele será racionalista? Ou ele será mais sentimental? Ou vai se preocupar com sua historicidade? Quais os valores que ele terá que considerar para sua escolha? Sua escolha será ética? Por isso a ética e a moral deve ser estudada e daí um grande mistério será revelado ao aluno. Faça um teste, pergunte a um estudante do ensino médio para explicar a frase de Pascal, a verdadeira moral zomba da moral. Tenho certeza que não irá saber a resposta. Este é um grande enigma para estes alunos que a escola só tem uma ideologia. Esta análise feita pelo aluno, suas escolhas e decisões será muito importante para o seu desenvolvimento. Mas, o problema não será o aluno. O problema será o Estado.
Será que o Estado irá conseguir dar opções para este aluno? Pois um jovem animado e motivado irá exigir energia. Pois se o Estado não der conta de contribuir para as expectativas para este jovem resultará em mais uma opção de frustração. Ou escola particular de qualidade irá conseguir dar várias opções para este aluno? O que poderia significar uma real oportunidade para todos, só será mais uma ferramenta para continuar a elitização da sociedade. E por sua vez a exclusão social e o preconceito. E nos lugares mais afastados das capitais já existe dificuldade de se manter uma escola com todas as disciplinas e como será com este ensino mais flexível? É outro ponto importante a se pensar. Mas, também não podemos parar no tempo. O Brasil é muito grande então os problemas terão a mesma proporção. Resolver cada um deles é muito difícil, mas tem que ser feito.
Trazer o ensino técnico para mais próximo do aluno é uma opção importante para uma educação de qualidade e democrática.


A inclusão da formação profissionalizante no ensino médio tem potencial de impacto social importante. Hoje, perto de 90% dos jovens que terminam o ensino médio não vão para a faculdade. A maioria nunca mais retorna a uma sala de aula. A oportunidade de receber formação para o mercado de trabalho ainda na escola pode mudar a trajetória social desse jovem. (Época)


Esta proposta de flexibilização da educação é importante para a democracia. Na verdade é uma evolução normal de um sistema democrático. Tem que acontecer. Mas, o governo precisa aprender a escutar mais o povo, que é quem paga para que a escola exista. Pois, os impostos são muito alto para se ter uma educação “meia boca”, sendo otimista. O aluno que é o objetivo central da educação. E o mestre que é que faz a educação acontecer. O presidente da CPP (Centro do Professorado Paulista) professor José Maria Canselliero escreveu:

Uma reforma do ensino médio era necessária, diante de estatísticas que mostram desistência de praticamente 50% de nossos jovens. No entanto, legislar por medida provisória significa não dar oportunidade de participação da sociedade e do segmento que estão envolvidos no processo (professores e alunos, principalmente).  (Jornal dos Professores, p.2)

Além de focar no aluno, também é importante considerar a sociedade. Talvez o foco principal deva ser a sociedade. É o mesmo do projeto da escola sem partido. Também é uma evolução da democracia, pois uma escola que só tem uma ideologia em que o aluno não pode conhecer outra forma de pensamento não condiz com a escola cujo objetivo é aprender.

De tudo o que foi dito, conclui-se que a importância política da educação reside na sua função de socialização do conhecimento. É realizando-se especificidade que lhe é própria que a educação cumpre sua função política. (SAVIANI, 2000, p.88)

Todos estes acontecimentos demonstram uma preocupação com a educação e com a democracia é cada vez mais presente no dia a dia. O que significa que a democracia faz parte da qualidade do ensino. A educação tem que contribuir para um aluno melhor e consequentemente para uma sociedade melhor. E não para uma reprodução o que temos hoje em dia na sociedade. Se for para reproduzir o que temos hoje na sociedade não necessita de reformulação da educação, pode-se deixar como está. Também não se precisa de muitos investimentos. Na verdade o que se investiu foi exatamente em uma escola partida, segmentada. E também não queremos uma nova roupagem para esta escola partida, a educação tem que ser coisa séria. E tem que ser para todos. A escola democrática presupoem participação ativa e uma participação ativa  presupoem escolhas e escolha necessita de alternativas. Sem alternativas não existe diálogo e sim monólogos. Não tem lógica em um mundo com várias ideologias não poder apresentá-las. Um professor que não consegue ver, conhecer, ensinar as mais variadas visões de mundo. Não pode ser considerado um professor. É um vendedor, pois o vendedor tem um foco, um objetivo e tem que se virar com isto. Um professor que gosta de uma certa ideologia e não aceita conhecer outra, na verdade está dificultando sua própria evolução de si. E sempre estamos aprendendo com o outro.

Bibliografia

Jornal dos Professores. Publicação do Centro do Professorado Paulista. Edição: outubro de 2016, n°469, ano: LII

SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. Editora Autores Associados: Campinas, 2000.

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